Lista dos 50 finalistas do Portugal Telecom mostra que 50% dos autores estão nas mãos de dois grupos editoriais
Dos 50 primeiros finalistas do Prêmio Portugal Telecom de Literatura em Língua Portuguesa anunciados anteontem à noite, em cerimônia no Consulado de Portugal no Rio, quase a metade está nas mãos de dois dos maiores grupos editoriais do País, Record (13 autores) e Companhia das Letras (12 autores). É um dado importante, considerando que a edição atual do prêmio teve 100 editoras inscritas, das quais apenas 13 chegaram a essa primeira lista de finalistas, da qual fazem parte premiados escritores como Milton Hatoum, colunista do Estado, o português Gonçalo Tavares, além de representantes da nova geração de autores - Daniel Galera e Carola Saavedra -, e um dos maiores nomes das artes plásticas no Brasil, Nuno Ramos, revelado também como autor em Ó, classificado como livro de contos.
Veja lista completa dos finalistasEste ano foram inscritos 501 títulos. Na análise da curadora-coordenadora do prêmio, Selma Caetano, isso atesta o interesse das editoras e a repercussão do Portugal Telecom entre novos autores independentes. Esses já buscam o registro no ISBN (International Standard Book Number ou Número Padrão Internacional de Livro) para poder participar do prêmio, que contempla três vencedores: o primeiro colocado com R$ 100 mil, o segundo com R$ 35 mil e o terceiro com R$ 15 mil.
Os independentes finalistas são quase todos poetas. É um gênero cada vez menos presente no prêmio. Com apenas 172 inscrições e 12 livros selecionados entre as cinco centenas de títulos, a poesia, contudo, está bem representada por nomes como os de Eucanaã Ferraz (pelo livro Cinemateca, da Companhia das Letras), Paula Glenadel (A Fábrica do Feminino, da editora 7 Letras) e o poeta de Cabo Verde José Luís Tavares (Lisbon Blues, da Escrituras), que tem uma carreira curta de cinco anos, mas já ganhou um prêmio da Fundação Calouste Gulbenkian pelo livro de estreia, Paraíso Apagado por Um Trovão (2004).
Outro gênero com poucos finalistas foi o da crônica. Apenas três autores figuram entre eles: Luís Nassif (A Casa da Minha Infância, da Agir), Fabrício Carpinejar (Canalha!, da Bertrand Brasil) e Vanessa Barbara (O Livro Amarelo do Terminal). A contrapartida ficou com o romance, gênero que predominou tanto nas inscrições como na lista dos selecionados para a final de setembro. Do total de 501 livros inscritos, 197 são romances. Dos 50 finalistas, 28 são romancistas. Os contistas tiveram apenas quatro obras selecionadas pelo júri, formado pelos curadores Flora Sussekind, José Castello, Maria Lúcia Dal Farra e Selma Caetano.
A professora de Literatura Flora Sussekind, ao falar na cerimônia que anunciou os 50 finalistas no Rio de Janeiro, deu margem a uma discussão sobre a qualidade da literatura brasileira contemporânea, afirmando que ela está "cada vez mais convencional". Mesmo assim, observou, "o júri conseguiu eleger alguns livros que quebram o conservadorismo literário e merecem reconhecimento".
Um júri intermediário escolherá em setembro os dez finalistas do prêmio. Ele é formado, entre outros, pelas professoras Beatriz Resende e Leyla Perrone-Moisés.